Para Susana Caetano, todos têm um papel a cumprir para que a sociedade tome consciência de que a ciência é para todos e todas. Em entrevista, a gestora de ciência da Unidade FCCN destaca algumas das dificuldades colocadas às mulheres na área das STEM, focando possíveis soluções.

A Unidade FCCN juntou-se à campanha da GÉANT “Women in STEM”, que procura divulgar o papel das mulheres na Ciência e Tecnologia. Como pensa que tem evoluído a notoriedade do trabalho das mulheres nestas áreas, ao longo dos últimos anos?

Penso que, nos últimos anos, existe uma maior noção das disparidades e iniquidades entre géneros. Em menina, eu não fazia ideia de qual a situação vivida, por exemplo. A História ensina muito e, no caso das STEM, tivemos décadas de presença masculina em comités, prémios Nobel, organismos decisores, em todas as classes sociais e em várias culturas. Será necessária mais do que uma geração para atingir um maior equilíbrio.

Acredito que a Unidade FCCN tem tido um papel exemplar no apoio às mulheres nas áreas de STEM. Ainda assim, esta questão necessita de saltar para fora do contexto laboral. Todas e todos nós, pais, mães, tios, tias devemos influenciar os mais pequeninos e pequeninas, num esforço intergeracional, contribuindo para que a sociedade receba a ciência de braços abertos no seu dia-a-dia – nas conversas de café, nos jantares de família ou copos com os amigos (risos). Quantos de nós cresceram com cientistas por perto? Poucas, não é? Acredito plenamente que a ciência é para todos e todas, dos 0 aos 120 anos de idade.

#2 Existem dificuldades colocadas às mulheres que trabalham nestas áreas? E em específico na sua área de especialidade?

De momento, estamos numa fase de transição, em que passámos de zero para a presença de algumas mulheres entre muitos homens. A computação avançada, por ser muito especifica dentro das STEM, não é exceção. No primeiro concurso de projetos que lançámos para utilização dos supercomputadores, por exemplo, houve apenas 15% de candidatas.

A maior dificuldade poderá passar pela questão “onde ir buscar mais mulheres adultas interessadas por estas áreas?” Aos cursos de informática? A outras áreas? Nas gerações mais novas? A resposta parece-me ser “em todo o lado”. Para tal, penso que é necessário desconstruir estereótipos e preconceitos, desde cedo, mostrando mães e avós na ciência aos nossos filhos e filhas. E, claro, também mostrar avôs e pais como educadores de infância, enfermeiros ou empregados de limpeza. Porque os dois lados da balança são importantes para se atingir um equilíbrio de proporções.

O objetivo é que exista mais diversidade e tolerância – no género, etnia, e não só  – para que deixe de ser “estranho” ver uma mulher a programar e um homem a educar crianças pequenas. E para que uma mulher de 18 anos não tenha receio de sair da zona de conforto e aprender informática ou engenharia.

#3 Que passos pensa poderiam ser dados para levar à eliminação dessas dificuldades?

Educar as gerações mais novas na linguagem (falada, ouvida, vestida ou brincada), utilizando mais linguagem neutra nos adjetivos e profissões, por exemplo. Por outro lado, penso que as crianças devem crescer num ambiente mais inclusivo e misto, onde os adultos dão o exemplo.

Também me parece importante promover mais brincadeiras e histórias neutras nos ensinos pré-escolar e 1º ciclo, levando os e as cientistas às escolas, por exemplo. E fomentar atividades, clubes e associativismo para adolescentes jovens e adultos que facilitem o convívio misto, onde as responsabilidades e liderança são partilhadas.

Outros passos que poderão ser dados passam pelo reforço da aposta em up/reskilling de outras áreas para STEM, bem como na flexibilidade na carga horária semanal para pais e mães. Tudo isto, enquanto é promovida a presença de pelo menos 30% mulheres nas reuniões, nos quadros superiores, nos laboratórios, no ensino superior, nas empresas, na administração pública, etc…

#4 Qual o contributo que dias como o “International Day of Women and Girls in Science” podem dar para a resolução desses problemas?

Penso que dias como este ajudam a tomarmos consciência de que a ciência é para todos. E que existiram e existem cientistas mulheres que são uma inspiração e um farol que nos ilumina.

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