A gestora do PTCRIS, Cátia Laranjeira, explica-lhe tudo sobre a importância deste programa para o futuro do sistema científico nacional.
A transição para uma economia baseada no conhecimento tem sido impulsionada pelo rápido desenvolvimento da ciência e tecnologia, bem como pela ampla adoção de novas tecnologias em todas as atividades humanas. Efetivamente, ao longo das últimas décadas, tem-se registado um crescimento exponencial na produção científica e no volume de dados produzido. Espera-se que o conhecimento resultante destes esforços científicos seja o motor para responder de maneira efetiva aos desafios complexos que enfrentamos atualmente, mas, para que tal aconteça, é essencial conhecer e dar a conhecer o conhecimento que é produzido.
Os princípios FAIR, publicados pela primeira vez em 2016, estabelecem as diretrizes para boas práticas na gestão dos dados que resultam da investigação. De acordo com estes princípios, para maximizar o impacto dos avanços científicos e tecnológicos, os dados científicos devem ser Findable (localizáveis), Acessible (acessíveis), Interoperable (interoperáveis) e Reusable (reutilizáveis). Neste contexto, a gestão de ciência assume um papel fundamental.
A adoção de normas e a criação de ferramentas e infraestruturas que as suportam são os pilares invisíveis que sustentam a FAIRificação na ciência. Em Portugal, reconhecendo essa importância, têm sido feitos esforços para definir um quadro normativo de interoperabilidade e infraestruturas de suporte que permitam construir um ecossistema integrado e coerente, no qual a informação que decorre da atividade científica flui entre os vários sistemas. Este ecossistema foi designado de PTCRIS.
O que é o PTCRIS?
Lançado em 2014, o programa PTCRIS propõe-se a criar um ecossistema integrado de informação de suporte à atividade científica nacional. Para tal, o PTCRIS dedica-se ao desenvolvimento de um quadro normativo de interoperabilidade, isto é, conjunto de princípios e regras, uma linguagem comum que permite uma comunicação eficaz entre os diversos componentes do ecossistema de investigação, garantindo consistência, interoperabilidade e compatibilidade entre diferentes sistemas, plataformas e instituições.
Um desses princípios diz respeito a identificadores únicos e persistentes (PIDs) – referências que permitem distinguir de forma unívoca os diferentes intervenientes do ecossistema académico-científico, nomeadamente Investigadores, Organizações, Projetos/Financiamentos, Produções e Infraestruturas científicas. Os PIDs são essenciais para que os dados científicos sejam localizáveis e acessíveis. São também fundamentais para garantir a associação inequívoca entre os dados científicos e os outros elementos do ecossistema (investigadores, organizações, financiamento, etc.), possibilitando uma compreensão mais precisa das interações entre os diversos atores e recursos.
Para além dos PIDs, também a adoção de modelos de dados padronizados, semânticas e vocabulários controlados são fundamentais para garantir a interoperabilidade e a integração eficiente das informações no ecossistema de ciência e tecnologia. A utilização dos modelos de dados definidos pelas boas práticas permitem estruturar a informação de forma padronizada, tornando-a mais legível tanto para máquinas como para humanos. Esta possibilidade facilita a descoberta e o acesso aos recursos disponíveis, além de permitir uma análise mais minuciosa dos dados.
Os vocabulários controlados, por sua vez, desempenham um papel crucial na padronização dos termos e conceitos utilizados no ecossistema académico-científico. Ao adotar vocabulários controlados, é possível evitar ambiguidades e garantir a consistência e a precisão da informação. Tal facilita a pesquisa e a recuperação de informação relevante, além de promover uma comunicação mais clara e eficiente entre os diferentes intervenientes do ecossistema.
E quais os benefícios?
Os benefícios que advêm do desenvolvimento de um ecossistema integrado de informação científica são múltiplos. Desde logo, destaca-se a maior facilidade no acesso à atividade científica e aos seus resultados. O desenvolvimento de plataformas e ferramentas que promovem o acesso e a partilha dos resultados científicos. Estes recursos favorecem colaborações interdisciplinares e, consequentemente, incentivam a inovação e o desenvolvimento de novas ideias científicas.
Por outro lado, é possível garantir uma maior eficiência nos processos de produção, gestão e acesso a dados fidedignos, completos e atualizados. Estes são fundamentais para gerar indicadores confiáveis que permitam monitorizar o impacto das políticas científicas e desenvolver estratégias baseadas em evidências.
Para além de um ecossistema integrado de informação científica permitir uma maior capacidade de integrar e harmonizar dados de várias fontes – permitindo assim obter uma visão holística do ecossistema científico –, destaca-se ainda a possibilidade de simplificar a gestão da informação sobre a atividade científica, com a adoção de standards e mecanismos de interoperabilidade que contribui para o aumento da racionalidade e eficiência administrativas, reduzindo a carga burocrática que recai ainda sobre os investigadores.
Tal simplificação tem vindo a ser materializada no contexto da plataforma de gestão curricular CIÊNCIAVITAE. Baseado no normativo PTCRIS e embebido do mantra “Registar uma vez reutilizar sempre” desde a sua conceção, o CIÊNCIAVITAE está integrado com um conjunto de sistemas nacionais e internacionais o que permite a importação/sincronização de dados previamente registados e, consequentemente, uma poupança estimada de mais de 5 milhões de minutos no registo de informação.
Assim, as normas e infraestruturas de suporte propostas pelo PTCRIS não são um fim em si mesmas. São sim o substrato para criar um ambiente propício para a colaboração, a descoberta e a disseminação do conhecimento. Ao promover uma gestão de ciência mais eficiente, o PTCRIS contribui de forma determinante para a consolidação de uma economia baseada no conhecimento, na qual o conhecimento produzido é compartilhado e reutilizado, maximizando o seu impacto.